Embora os produtos lácteos sejam uma fonte importante de gordura saturada na dieta, estudos têm demonstrado vários efeitos benéficos desses alimentos sobre a saúde cardiovascular, incluindo um risco reduzido de AVC e doença cardíaca coronária.
“Isso foi surpreendente, e para muitas pessoas ainda é”, diz o professor Ian Givens, da University of Reading. “Para alguns é um pouco paradoxal, o fato de que você não vê um grande aumento no risco de doença cardíaca coronária, em especial, com o alto consumo de produtos lácteos”, diz ele. “Um dos nossos maiores desafios tem sido explicar ao público porque vemos um risco de doença cardiovascular reduzido ou neutro com a maioria dos produtos lácteos, quando na cabeça de muitas pessoas elas esperariam que o risco fosse aumentado”.
Em uma nova metanálise que analisou 29 estudos prospectivos de coorte, Givens e seus colegas encontraram uma associação neutra entre o consumo de leite e a mortalidade cardiovascular e de todas as causas. “Nós pensamos que havia muito tempo desde que houve uma metanálise atualizada”, diz Givens. “Nós acabamos com uma espécie de resultado neutro. Em outras palavras, o aumento do consumo não está associado a um risco aumentado”, diz ele. Os pesquisadores também descobriram que consumir mais produtos lácteos fermentados, incluindo queijo e iogurte, pode diminuir o risco de doenças cardiovasculares (DCV).
Givens ficou interessado em estudar como os produtos lácteos afetam as DCV, devido às importantes implicações deste assunto para a saúde pública. “Os produtos lácteos são consumidos por uma proporção muito alta da população”, diz ele. “Se houver algum problema com esses alimentos, isso teria potencialmente um grande efeito, afetando a todos, desde crianças até adultos”, diz Givens. Se os produtos lácteos não são prejudiciais ou são até benéficos para a saúde do coração, apesar do seu teor de gordura saturada, é uma boa notícia para a grande maioria de pessoas que consomem lácteos regularmente.
Givens começou a fazer metanálises, visando os lácteos e CVD, em meados dos anos 2000. “A primeira coisa que fizemos foi simplesmente comparar os grandes consumidores versus pequenos com uma série de resultados, mas focando particularmente nas doenças coronárias e expandindo às doenças cardiovasculares em geral, o que inclui o AVC”, diz ele.
“Quando eu comecei e, até certo ponto, acho que ainda continua assim, o público estava na dúvida se os produtos lácteos eram bons ou ruins”, diz Givens. “Eu acho que isso ocorreu devido, principalmente, às notícias que surgiram sobre as gorduras saturadas”, diz ele. “A evidência sobre gorduras saturadas por si só, eu acho que ainda é bastante forte”, diz Givens. Mas, e quando essas gorduras saturadas estavam presentes em produtos lácteos?
Givens e outros pesquisadores realizaram muitos estudos, incluindo várias metanálises, para descobrir como os produtos lácteos poderiam afetar o risco de DCV. “A força dessas metanálises vem do fato de reunir evidência de estudos realizados em diferentes partes do mundo”, diz Givens. “Se a tendência para todos eles está na mesma direção, isso lhe dá muita confiança”, diz Givens.
A maioria desses estudos não encontrou nenhuma evidência de associação prejudicial entre o consumo de lácteos e o risco de DCV. Na verdade, o consumo desses alimentos pode até ser benéfico, já que há evidências de que um maior consumo de leite e queijo pode estar associado a um risco menor de acidente vascular cerebral. “Existem duas DCVs realmente preocupantes: AVC e doença cardíaca coronária”, diz Givens. “Os produtos lácteos fermentados podem desempenhar um papel na diminuição de ambas”, diz ele.
Além de estudos prospectivos, Givens e outros também realizaram estudos de intervenção, que analisaram os efeitos de produtos lácteos e proteínas em marcadores de risco de DCV, incluindo pressão arterial.
Uma mensagem importante a ser retirada das metanálises recentes, é que, ao contrário da maioria dos outros produtos ricos em gorduras saturadas, os produtos lácteos não são prejudiciais para a saúde do coração, e podem até ser benéficos. “Eu acho que podemos dizer que os produtos lácteos não são prejudiciais em relação às DCVs”, diz Givens.
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